30 junho 2009

A greve universal.

"... a universidade solicitou o envio de tropas de choque que destruíram as barricadas e prenderam todos os estudantes que ocupavam o campus. Não era um acontecimento excepcional na época, uma vez que casos semelhantes ocorriam com freqüência em outros lugares. A universidade, afinal, não havia sido desmantelada. Um grande volume de investimentos é canalizado para instituições de ensino superior, e seria pouco provável que as universidades viessem abaixo, sem reação, como resultado da violência de alguns estudantes. Mesmo aqueles que a obstruíram com barricadas não tinham a intenção de destruí-la. Pretendiam modificar o equilíbrio de poder da estrutura universitária, mas eu, particularmente, pouco me importava com isso. Então não senti nenhuma emoção especial quando a greve terminou.

Em setembro, fui ao campus na expectativa de encontrá-lo praticamente em ruínas, mas a universidade permanecia intacta. Os livros da biblioteca não foram saquados, nem as salas dos professores estavam destruídas, nem a sala dos estudantes incendiada. Perplexo, eu me perguntava o que afinal aqueles estudantes haviam feit atrás das barricadas.

Os estudantes que haviam comandado a greve foram os primeiros a assistir ás aulas quando estas recomeçaram, depois do fim da greve e sob a ocupação das tropas policiais. Apareciam nas aulas, tomavam notas e respondiam à chamada como se nada houvesse acontecido. Foi muito estranho, porque ninguém declarou o término da resolução de greve, que ainda estava em vigor. A universidade havia chamado as tropas de choque para destruir as barricadas, mas o movimento grevista supostamente continuava. Na hora de declarar a greve, os líderes falaram alto e animados, criticando severamente ou o oprimindo os estudantes contrários a ela (ou que exprimiam suas dúvidas sobre ela). Fui até eles lhes perguntar a razão de voltarem às aulas e não continuarem a greve. Não tive resposta. O que poderiam me responder? Estavam com medo de perder os créditos por causa do número de faltas. Achei graça ao pensar que haviam sido esses os mesmos estudantes a clamar pela dissolução da universidade. Bastava o vento mudar um pouco de direção e seus gritos se transformavam em sussurros.

Veja, Kisuki, a merda que é este mundo, pensei. Esses putos estão conseguindo todos os créditos e logo vão criar uma sociedade medíocre.

Mesmo assistindo às aulas, decidi não responder à chamada por algum tempo. Sabia que agir assim não levaria a nada, mas teria me sentido mal se não o fizesse. Mas, por causa dessa minha atitude, acabei me isolando cada vez mais dentro da turma. Meu silêncio na hora em que meu nome era chamado criava uma atmosfera desagradável entre os colegas. Ninguém conversava comigo e eu não dirigia a palavra a ninguém.

Na segunda semana de setembro, cheguei à conclusão de que o ensino superior era desprovido de qualquer significado. Resolvi entendê-lo como um período de treinamento para suportar o tédio. Não havia nada de especial que eu desejasse realizar na sociedade para me fazer largar tudo naquela hora. De modo que continuei indo diariamente à universidade, assistia às aulas, fazia anotações e, no meu tempo livre, ia para a biblioteca ler livros ou fazer algum trabalho de pesquisa."

NORWEGIAN WOOD - HARUKI MURAKAMI

Hermes Trimegisto

"Enraizar-se-á sob um asilo de loucos a mais 'sábia' das ciências."

Por que será que o que mais se teme é o fim do mundo? OU Pensamentos de um Homem-Bomba.


Eu estava assistindo a um filme em, em câmera rápida, que simulava como seria se víssemos do Big Bang até à extinção dos dinossauros. Fiquei angustiado e pensando em várias coisas:
I. A teoria evolucionista é realmente uma coisa muito frágil. Como se diz, foi apenas uma das muitas teses que, com a sorte, deu certo. Foi uma teoria que encontrou argumentos minimamente verificáveis, e, por tanto, agradou uma meia dúzia de ateus cansados do criacionismo, depois virou moda. A Mitologia da Ciência é tão forte e, nossas mentes, tal como foi a da Igreja na Idade Média, que não acreditamos poder recusá-la. Nos parece factual demais. Mas quando vemos o Balé dos Protozoários, suas multiplicações e evoluções, em câmera rápida, começamos a duvidar se realmente foi assim. Se tiver sido, que se erga uma Igreja ao acaso, que ele foi muito menos casual do que se poder crer.
II. E mais importante. Quando vi a extinção dos dinossauros senti um aperto no peito sem igual, gigante mesmo. Eu já venci o medo da morte tem muito tempo, mas o da completa extinção da espécie ainda não. E o medo de uma futura catástrofe, como a que eliminou os grandes répteis, percebi presente. Nunca que e aceitarei viver em um ambiente catastrófico, completamente impróprio para mim. Se for para morrer, prefiro me suicidar, por vontade própria, do que ser suicidado por fome, frio, ou todas as outras loucuras que um ambiente hostil instila.
III. Pensando em tudo isso comecei a pensar, e pensar. O que eu farei se acontecer uma catástrofe com a terra? Bem, encontrei um lugar que aceita o suicídio, ou melhor, recompensa-o desde que se leve junto várias pessoas. Pensei, pensei e concluí:
Se vier o fim do mundo, é melhor que eu aceite a teoria das quarenta virgens, afinal, como o evolucionismo, é uma teoria que, dada a situação, agrada demais.

26 junho 2009

Perdù




Bom-gosto
Mal-gosto
Dis-gosto

digostoso, mal dis-gosto a vida
e que vida?

saudade dos pequenos fluidos cerebrais
saudades apertadas
um peito mole e flácido
aperto em minhas pernas
o que nela deveria entrever
e subo cego uma parede
que nem sei se pode haver
quatro pernas
8 dedos
e um olho cego
nada... em absoluto
apenas o nada

do negativo ao positivo
eu apenas me esqueço de tudo.......
mas esquecer do outro não é nada
eu me esqueço de mim
mim mesmo sendo perdido
não mais no outro
perdido em mim

17 junho 2009

Peninha na Cabeça.


quando eu era criança, muitas foram as vezes em que, ao sentir algum odor desagradável, as famosas frases eram ouvidas: 'quem soltou um pum tá com uma peninha na cabeça.' ou 'quem soltou um pum tá com a mão amarela.'. muito ingenuamente, tendo soltado-o ou não, eu checava se algo de anormal se passava comigo ou não. era um tal de olhar para a mão ou coçar a cabeça, sem fim. e claro, logo eu era taxado de 'peidorreiro'. alguns anos depois eu vim a entender o mecanismo de 'coerção' das duas falas, que nada mais eram, do que uma maneira de obrigar o flatulento a fazer prova conta si mesmo.

mas isso foi anos depois, voltemos alguns anos atrás. depois de um certo tempo sendo 'pego' em tal 'brincadeira' entendi, erroneamente, que era só eu não checar coisa alguma e sairia, sempre, ileso. se eu soltasse ou não um pum, bastaria que eu não me manifestasse, ou seja, era só eu não olhar a minha mão, ou coçar minha cabeça, e deixar que outro fizesse, então tudo ficava certo.

a questão, em si, não é bem nada disso, só descrevi como as coisas aconteciam; mas o porquê de, sendo culpado ou não, eu insistia em checar as 'anomalias'.

Para essa explicação, o melhor é tomarmos o exemplo da peninha, uma vez que ela tinha o 'poder' de aparecer ou desaparecer. na minha cabeça, imaginariamente, a pena era uma entidade arbitrária e ela se colocava sobre o indivíduo que quisesse, sem a menor consideração. psicanaliticamente falando, a peninha, como representante de uma certa justiça, ou mesmo da justiça, e serviu de paradigma em minha vida, assim dizendo, para a idéia da própria justiça. Essa, tal a pena, seria uma entidade arbitrária, brincalhona, que não escolhia indivíduo algum movida pelos fatos, e sim randomicamente, a seu bel-prazer.

ou seja, não importava verdadeiro culpado, apenas a escolha que a peninha fizesse e, para que soubéssemos se éramos culpados ou não, a única maneira era levando a mão à cabeça e checando se possuíamos ou não a bendita sobre nós.

por outo lado, mais alguns fatos podem se depreender dessa histórinha. sempre que checássemos a cabeça do outro, outros, olhando para ela, por não enxergarmos a peninha, nos sentiríamos culpados. somos capazes de lançar os olhos sobre os outros, mas nunca sobre nós, (a não ser na presença de espelhos, mas seria nossa imagem, nós mesmos?, mas isso é outra conversa.) o que nos obrigaria sempre ao uso de outro meio que não o olhar. além disso, se tocássemos nossas cabeças, estaríamos imediatamente nos acusando. o que restaria a fazer? esperar, apenas isso; esperar que alguém se culpasse antes de qualquer outro e, assim, solucionasse-se a questão.

em tempo, a justiça nada mais é que uma entidade arbitrária que se diz postar sobre o culpado, mas esse, só é fielmente encontrado se se dispuser a entregar-se, em todos os outros casos, são inocentes que se fazem apanhar ao procurarem, em si, algo que não possuem, a saber, a culpa. mas não seríamos todos culpados de alguma coisa, e, por isso, na constante busca da peninha em nossas cabeças?