O Casal Desigual
A metalinguagem é o escrever sobre aquilo que se está escrevendo, ou viver aquilo que se está vivendo. Dois anos, ou mais, sem viver minha escrita. Dois anos, ou mais, sem escrever minha vida.
Dos amores eu levo as dores de recordar momentos bons, perdidos. Das dores uma miríade de sensações boas por não mais as ter. Hoje é Terça-feira, melhor dia impossível pra começar, ou recomeçar. Não se deve fazer nada de novo nas terças, os dias? As segundas, dias eleitos.
De todos e todas
você escolhi
das bocas e beijos
a sua eu quis
de tantos abraços
em seus braços quedei-me
você escolhi
das bocas e beijos
a sua eu quis
de tantos abraços
em seus braços quedei-me
Esse é um versinho inacabado de algo que já acabou faz tempo. Sonhei com a princesa encantada desse velho sapo. Clichês, transávamos. A falta de clichê em tudo isso foi o reviver uma Julieta que minha família Silva detestava. Não que eu tenha voltado a quedar-me na loucura de dias amenos, ou mesmo afagar-me com o tempo que apenas escorre, não passa, de um interior pegajoso. Eu estou me reinventando. O corpo que essa alma habita é o mesmo que a faz viver com graça, de graça?
Eram 3h da manhã, a boca que eu beijava era aquela que eu condenava, o corpo que me sublimava não era o corpo da espera. O andar pela rua é que valeu. Andar pelas ruas com o mesmo medo em que andei pela vida. A vida é triste porque me coloca uma repetição tediosa. Não existem pessoas, apenas a mesma pessoa. Senti naqueles braços, naquele rosto, um engano proposital. Virei e lhe falei: “Faz-me violino e arrebenta minhas costelas em um concerto feito pra mim em ré maior”. Reverberei sonoridades. Andava pelas ruas de mãos dadas, consumava em fato o que nunca fui capaz de consumar em existência. Virava-me a nuca para que lhe imprimisse no pescoço a suavidade de minhas mãos poetas.
A cada toque que colho
Na frondosa altura de teu corpo
Me colho desespero
De quem só plantara ternura
Na frondosa altura de teu corpo
Me colho desespero
De quem só plantara ternura
O sussurro que damos agora
É o prelúdio do abraço que descola
Me desprego de seu corpo
Pra pregar me em tantos outros.
É o prelúdio do abraço que descola
Me desprego de seu corpo
Pra pregar me em tantos outros.
A princesa foi-se embora e o sapo ficou. Barraca do beijo, pode chegar que a disponibilidade e a boa-vontade acolhem e dão morada para todo mundo. A muitos dei uma felicidade que eu não tinha mais. O sapo era beijado, mas continuava sapo. Olhava por cima da varanda e via um horizonte que queria pegar. O sapo virou uma puta que se atira pra se encontrar.
Em cada corpo alheio
Me encontrava em minha perda
E em cada perda minha
Só podia te encontrar.
Me encontrava em minha perda
E em cada perda minha
Só podia te encontrar.
O sapo não fora convidado, mas pruma festa no céu resolveu ir. Como não sabia voar, arrumou carona num Set transcendente de musicas empresariais de um tal Disco Joquey. Na festa, feito Geni, não se impressionava com os mancos, os cacoetes, os afetados e os bailarinos. Dançava num rodopio telúrico, beijava numa devassidão homérica, amava numa sublimidade platônica.
Pobre manco
quedava-se em seu próprio lugar
Se suspendia pra novamente cair.
Verdadeira reviravolta lunar.
quedava-se em seu próprio lugar
Se suspendia pra novamente cair.
Verdadeira reviravolta lunar.
A queda, para o pobre manco
era apenas o primeiro movimento
De uma valsa da qual não sabia dançar
era apenas o primeiro movimento
De uma valsa da qual não sabia dançar
Em festa de Enhabú, Jacú não vai. O sapo não era daqueles que se impressionavam com qualquer tipo de jargão. E continuando numa quase fúria, ele bebia e sorria, beijava e quedava a todas as suas vontades e emoções. Bacanal lisérgico. E o sapo não se convencia que a felicidade existia e se afundava sempre mais, numa festa no céu, da qual nem havia sido convidado. Quando deu por si, estava sozinho na pista, a festa acabara. E agora José? Sapo não é bobo e nem choroso pra chorar sobre as pitangas derramadas. De cima de uma nuvenzinha olhou pra baixo, bela queda, é só vertigem, apenas linguagem, saltou.
A queda é feito parto
Saímos de um mundo
Que conhecemos
Pruma imensidão desconhecida
Saímos de um mundo
Que conhecemos
Pruma imensidão desconhecida
Pulo do alto de minha sacada
A brisa me apara e eu me aparo em você.
A brisa me apara e eu me aparo em você.
O sangue fugidio
Me escapa pelas temperas
Vontade de cair daqueles que estão em queda
Me escapa pelas temperas
Vontade de cair daqueles que estão em queda
Angústia que agarra fundo no peito
Só a queda liberta.
Só a queda liberta.
No seu se libertar o sapo não via nada que passava ao seu redor, aviões que lhe acenavam com a asa presa, imóvel. Pássaros que voam sem saber o porquê de o fazer. O sapo suspenso, caia, e sabia o porquê, se parecia um vôo é que ele premeditara todo seu despregamento do céu. O vento que lhe soprava entre as orelhas era um sopro verde, anil, multicolor no branco prismático. Encontrou o chão, beijou-lho solo, virou um príncipe.
O amor é fuga
Incapaz de se pegar
Na sua fugacidade opaca
Se torna metafísica
Incapaz de se pegar
Na sua fugacidade opaca
Se torna metafísica
Ele descreve o ser
Quando desaprende
O que é ser?
Quando desaprende
O que é ser?
Ser é estar no momento
Se sou amor
É por que estou apaixonado.
Se sou amor
É por que estou apaixonado.
A estapafurdia do sapo era pensar que o chão era mole, o baque foi surdo, a (re)percursão era grave. Sisudo de tudo, e triste com a vida, o sapo não era mais. O amar é uma queda que se escolhe, é um salto que se dá. Quando menos se espera a decisão já está tomada, a vertigem é inevitável e só se resta aproveitar o ar. O amor louco é queda acima do O2, é respirar o raro efeito do ar rarefeito. É se encontrar dissolvido e dissoluto no meio de partículas espalhadas que não sabem conversar. O príncipe fizera sua escolha quando ainda não se era; era nada. A boca que fizera-se pra beijar, numa rara ocasião rinítica, agora respirava fundo. A queda foi feia. As costelas de tocar não ressoavam mais. Serenata noturna de um sonho de verão que fugiu-lhe feito areia ampulhêtica.
Amar é se perder de si
Se encontrar num outro eu
Que te seja ao mesmo tempo 3
Amar é um ménage a trois
Que se consuma entre dois eus perdidos
Ao se encontrarem
Amar é o espelho na frente do espelho
Para amar, a gente tem que seguir aquela ilusão de caminho.
O príncipe ama, e só. E se ama é por que voltou a se amar. Não há amor entre dois se um dos dois não se ama de igual forma. O narcisismo é o prenúncio retumbante, feito as cornetas cavalariças, é a marcha nupcial de Mendelssohn.
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