19 outubro 2006

A turmalina do desespero.

Fazia tempo que eu não começava um texto a partir de seu título. Parece meio que masoquismo, para os que escrevem, começar um texto com um título pronto. O que fazemos sempre é compor e depois nomear a composição da melhor maneira. Fazendo ao contrário temos que escrever da melhor maneira que se possa para que o texto no final seja adequado àquele título. È um verdadeiro suicídio.
E foi tentando me suicidar que parti nessa empreitada. Suicidei-me, podem ter certeza. Como parte desse desafio também existia a necessidade de achar uma imagem adequada. Achei, a de cima, a que é a capa de um CD de alguma cantora latina da qual nunca ouvira falar até então. O mais engraçado. Tudo se trançava.
Vi aquela imagem e fiquei extremamente excitado. E pensei, “poutz, mas que coisa perfeita, e vejam só, as asas dela são feitas de turmalina”. Preciso ouvir sua voz. Me apaixonei por uma misteriosa imagem de capa de CD. Comecei minhas buscas, achei uma música que diziam ser a mais gostada pelos seus fãs. Comecei a ouvir-lhe a voz. Chorei copiosamente. Como podia o destino ser tão cruel para pessoas como eu. Fazia tempo que buscava me apaixonar por algo. E quando eu me apaixono, é a maior de todas as tristezas? O destino não é justo, é muita fatalidade para uma vida só.
Quando eu encontro finalmente algo a que me apegar, as coisas degringolam feito vagão descarrilado? Tudo era terrivelmente pavoroso. Minha vida se perdia num turbilhão de tristezas. Estão comecei a me lembrar cada vez mais de turmalinas. Lembrei de certa vez, há muito tempo, não tanto, há quatro anos atrás, quando passava a novela O Beijo do Vampiro.
Era sobre uma senhora fada que a música cantava. E foi essa senhora fada quem fez com que eu me apaixonasse por uma senhora bruxa. Tinha, eu, apenas quatorze anos de idade e me vi perdidamente apaixonado por uma linda menina de doze, cabelos ruivos, pele alva e sardenta. Ela se professava uma Wicca, eu me apresentava como um poeta amante, platonismo exagerado além do Topus Uranus. E lembro como se fosse hoje o dia em que em um bilhete ela me pedia um tempo, pois se achava jovem demais para paixões. È claro que me revoltei. E tive motivos. Logo após nosso rompimento ela já estava com outro, cheia dos amores e das concupiscências. Esse representou meu momento mais derrocado. Fora minha primeira vez no limbo romântico. Até hoje me culpo por tê-la perdido. Sim, sempre achei que o colar que eu havia lhe dado causara-lhe certos apetites, certas “bovoariices”. Eu tinha ganhado do meu pai um pedaço de turmalina canutilado (como se fossem vários canudinhos fininhos lado a lado). E com essa pedra eu lhe havia feito um colar, dia seguinte eu fiz minha cara de tudo está na boa após receber meu primeiro, e maior até hoje, pé na bunda. A música era sobre uma senhora fada, a realidade era sobre um poeta frouxo, que sem perceber que a vida era curta e a espera diametralmente oposta, ficou só. Foi meu maior desespero.
Tirando esse agora em que ao ouvir minha nova musa, escuto algo tão pavoroso que até me entristeço. O pior é que mesmo com aquela vozinha lancinante, eu consegui contrapor-lhe uma voz delirante. E assim descobri que minha maior dor de agora, já se afigurava há muito tempo. Que as traições são sempre premeditadas e que o orgulho que revestimos nossas amadas são muito úteis, quando elas são as mais desavergonhadas.
Foi com a procura de uma pedra que consegui entender um desespero que me deforma. Entendi minha essência. Poderia ser extremamente claro com esse texto, mas teria de citar nomes e deflorar fatos. Prefiro a incerteza das entrelinhas, quem quiser olhar de lado, vai enxergar torto, quem olhar sem ver talvez até possa enxergar. Mas sei lá, essa frase que virá me veio agora num relâmpago, só quem me conhece poderá ver, ou mesmo, enxergar.
Turmalina, corifeu dos desesperos mais profundos de minha alma, uma coisa eu te digo, de agora em diante afasto-te de minha vida. E espero que te aceitando como minha maior culpada, possa por um fim em tudo isso.

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